terça-feira, 18 de março de 2025

NOTAS SOBRE IMPERIALISMO * Roberto Bergoci/SP

NOTAS SOBRE IMPERIALISMO
Roberto Bergoci.SP

Olha, camarada, o bloco imperialista parece relativamente cindido. Veja a postura crítica, até desafiante do imperialismo europeu em relação a Trump, na questão da Ucrânia. Veja também, o avanço das contradições e do belicismo no mundo capitalista, no contexto das taxações de Trump. O desenrolar da crise capitalista mundial, as tentativas de reestruturação do imperialismo ianque, etc., podem estar abrindo certas fendas entre nossos inimigos, do qual os trabalhadores do mundo e os povos oprimidos podem e devem tirar proveito.

Não temos uma situação revolucionária ainda no mundo. Pelo contrário, permanecemos dentro de um período contra-revolucionário aberto com o fim da União Soviética. No entanto, o bloco imperialista formado desde então para re-dividir o mundo, parece estar se fissurando. Devemos tirar proveito disso. A vitória russa na guerra da Ucrânia representou duríssimo golpe no imperialismo mundial; assim como a resistência palestina armada. É hora de se reestruturar as forças do trabalho internacionalmente. É preciso reconstruir o movimento comunista internacional e estreitar também em nível mundial, as lutas antiimperialistas em andamento.

A crise do sistema de dominação imperialista é aberta e clara. O avançar da luta antiimperialista no mundo hoje, colocaria a burguesia de todos os países numa situação de muitas dificuldades, sobretudo porque o capitalismo atual possui pouquíssimas e limitadas margens para manobrar.

A tarefa mais importante de nossa época é fortalecer partidos e organizações comunistas revolucionárias nos países. Essa é uma condição de primeira importância.

Também, é necessário trabalharmos para organizar fóruns internacionais dos trabalhadores e dos povos oprimidos, que possibilitem internacionalizar as lutas sociais e antiimperialista.

No Brasil precisamos fortalecer uma frente da esquerda revolucionária, que pode começar pequena e débil, porém pode crescer e fortalecer-se através de um programa sério e consciente, de uma bússola para atuar e sobretudo, se romper com o sectarismo infantil.

UM PARÊNTESE

Uma experiência pessoal recente, sobre essa questão:
Na última sexta feira 14 de março, minha sogra faleceu por complicações relacionadas a um AVC e uma parada cardíaca em um hospital municipal em Guarulhos, grande São Paulo. Ela havia dado entrada no mesmo hospital no dia anterior pela manhã, com dores abdominais.

Após passar por procedimento médico e exames sanguíneos e raio-x, foi constatado um problema relacionado aos rins. A médica que a atendeu, por precaução, decidiu pela internação e medicação. No entanto, no hospital (principal hospital público de Guarulhos) não havia leito disponível e a idosa de 70 anos teve de aguardar pela madrugada de quinta feira adentro, o aparecimento de um leito para seus cuidados.

De nada adiantou as cobranças duras que fizemos, pois o problema é estrutural: o sistema está sub financiado; as instalações e mesmo a estrutura hospitalar como um todo, conforme podemos ver de perto, completamente sucateadas, faltando inclusive insumos básicos para atendimento, como aventais, etc., para os pacientes.

O hospital se encontrava lotado, a demanda por atendimento estava crescendo, enquanto o número de funcionários era muito reduzido no local. Uma situação absolutamente caótica e traumática mesmo.

Após conseguir um leito precário já pela manhã da sexta feira dia 14, minha sogra teve complicações, que acredito serem devido ao problema renal e teve dificuldades em urinar. Neste instante, a médica que a atendia prescreveu o uso de uma sonda, para fazer uma drenagem no local. Neste momento, podemos ver o despreparo assustador de parte dos trabalhadores da enfermagem, que não conseguiam realizar o procedimento.

 Talvez seja despreparo, porém o mais certo seria caracterizar a condição, como sobrecarregados devido à dialética macabra entre quadro reduzidíssimo de funcionários e uma demanda assustadora de doentes buscando uma salvação.

O resultado foi que neste quadro precário de atendimento, entre idas e vindas e sem uma atenção necessária, minha sogra sofreu um AVC, seguido por uma parada cardíaca, vindo a óbito em seguida, no mesmo dia 14 de março último; um dia após ter dado entrada no hospital de urgência lúcida e com dor abdominal que já estava sob controle.

No entanto, fato marcante, foram as inúmeras cenas de barbárie e de desumanidade assustadoras da qual presenciei pessoalmente dentro de um hospital municipal tradicional em Guarulhos, terceiro município mais rico do estado de São Paulo e com um PIB considerável, entre os maiores das cidades latinoamericanas. Se isso acontece num município de grande porte industrial e rico, como Guarulhos, imaginem a situação nas pequenas regiões afastadas dos grandes centros, neste país.

A nova fase do capitalismo em decomposição, é pôr em prática de forma selvagem o malthusianismo e darwinismo social sem piedade. É deixar morrer à míngua as parcelas mais empobrecidas das classes trabalhadoras que não podem ser nem mais exploradas pelo capital, pois pela ótica deste regime social criminoso, tornaram-se seres supérfluos dentro deste moinho de gastar gente, como diria o grande mestre Darcy Ribeiro.

Acima, relacionado a esta matéria, relato pessoal, sobre o falecimento de minha sogra num hospital municipal de Guarulhos. Penso ser também a experiência de milhões de brasileiros da classe operária neste país.

Um comentário:

  1. Excelente análise Companheiro. O Brasil no geral está assim. Em Foz do Iguaçu/Pr; onde moro, os hospitais estão assim, carentes no quesito estrutura e funcionários trabalhando o dobro...

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